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quarta-feira, 10 de junho de 2009

NOTAS PRELIMINARES SOBRE ADVOCACIA DE VOLUME OU DE MASSA

A década de 90 assistiu ao surgimento do CDC, dos Juizados Especiais e à Proliferação dos Órgãos de Defesa Consumerista um tanto quanto estonteada. Enquanto isso, os escritórios jurídicos foram surpreendidos pelo aumento exponencial da demanda do consultivo e do contencioso a serem prestados aos fornecedores de produtos ou serviços em geral, com inafastável necessidade de organização gerencial em torno da advocacia de volume ou de massa.

É fato : estamos vivendo uma era de verdadeira industrialização dos processos. Contudo, a premissa ética de não mercantilizarão deve ser mantida a todo custo, de forma que permaneçam sempre resguardados os princípios fundamentais de lealdade processual e justiça lato sensu.

Inobstante o emblema ético, não é segredo que a “advocacia de massa” exige uma estrutura totalmente diferente da chamada “advocacia de boutique”, ou seja, da organização de uma banca que pratica a advocacia de forma individualizada e artesanal.

Verdade é que, o advogado atuante no contencioso de volume deve ser, além de um jurista, um gestor de carteira, devendo estar habilitado para o atendimento em massa capaz de implementar e monitorar procedimentos seqüenciais para mais de uma dezena de colaboradores, o que, fatalmente, lhe exige uma espécie de controle todo especial, com relatórios baseados em informações de uma série de vetores diferentes.

O objetivo da gestão jurídica de volume é, basicamente, a constante sistematização e otimização das atividades da equipe, na busca de melhores resultados tanto para a empresa/cliente quanto para o escritório.

Por esse motivo é que, nos, grandes escritórios já é possível observar com certa freqüência a utilização dos princípios e práticas já consagradas na administração de empresas, tais como DMAIC (definir, medir, analisar, implementar e controlar) , o Seis Sigma (estratégia gerencial de melhoria continua ) o Just-in-Time (procedimentos que priorizam entrega na hora – império do prazo) dentre outros processos de trabalho.

O primeiro passo da reestruturação da gestão jurídica de um escritório de advocacia ou um núcleo de atendimento de volume é definir com clareza os seus objetivos e metas, dentro das expectativas do cliente e, claro, com respeito às particularidades de cada área do direito.


Vantagens Da Organização em Núcleos de Atendimento de Volume :

• concentrar a defesa de ações congêneres, com especialização dos colaboradores em cada área de atuação demandada pelo cliente;
• possibilitar ao escritório a oportunidade de realizar um trabalho preventivo com as empresas, propondo melhores práticas comerciais e visando a redução do passivo.

• poder efetivamente realizar uma política de acordos mais ofensiva.

• Informar e formar no meio jurídico profissionais especialistas e determinados segmentos de atuação;


O relacionamento com escritórios correspondentes :

Uma breve pesquisa nos sistemas gerenciais de escritórios da Inglaterra e Estados Unidos, nos mostra que o relacionamento com os correspondentes funciona com premissas baseadas no modelo “time sheet”, (por hora dispendida).

Já no Brasil, salvo raras exceções, o parâmetro que tem sido mais observado é a o da remuneração “por ato praticado”, com tabelas previamente estabelecidas com os correspondentes.

Qualquer que seja a forma adotada, indubitavelmente, relatórios de advocacia em correspondência devem abarcar uma série de dados, inclusive no que diz respeito os percentuais de risco de sucumbência. Não é uma tarefa fácil conjugar e analisar esses dados de forma a nortear mudanças que impactem positivamente nos lucros dos clientes e do próprio escritório. Mas é possível.


Gestão de pessoas e qualidade total na área jurídica

Evidente que cada escritório deve estabelecer seu ciclo de trabalho de acordo com a sua demanda e capacidade.

Normalmente, contudo, os planos de atuação não saem muito de ciclo composto da seguinte forma: Treinamento, Delegação, Monitoramento, Avaliação de Performance e (Re)estabelecimento de Metas

Isso porque a gestão de pessoas no contencioso de massa, passa, antes de tudo, por um processo de identificação das competências dos colaboradores, principalmente no que toca à cada habilidade e experiência.

Identificadas as competências e atribuições de cada membro da equipe jurídica, é hora de delegar níveis de autoridade e as respectivas responsabilidades sobre cada processo de trabalho.

Após essa análise e definição, é preciso treinar os estagiários e advogados para o adequado uso das ferramentas de trabalho disponíveis, sempre identificando possíveis falhas nos procedimentos e propondo mudanças, quando necessárias.

Nesse ponto, o enfrentamento, discussão e escolha de teses e nortes doutrinários e jurisprudenciais têm que estar claramente definidos.

Um manual de melhores práticas é um documento organizacional que deve estar em constante atualização, pois do ponto de vista gerencial, é suficiente para uma visão ampla dos posicionamentos jurídicos adotados e dos procedimentos adequados para aquele determinado núcleo de trabalho ou área de atuação.

O monitoramento das atividades deve ser absolutamente constante. Para isso, o gestor jurídico deve estar habituado a “ler as entrelinhas” dos relatórios, sempre atentando para as mudanças de atitudes necessárias para que as metas e objetivos pré-definidos sejam alcançados não apenas pela equipe, mas por cada membro dela.

Identificado algum problema operacional ou dificuldade com o colaborador, deve o gestor propor ações corretivas (e preventivas) com vistas a eliminar as suas causas reais, encontrando, dentro de sua própria equipe, preferencialmente, formas mitigadoras destes percalços.

Avaliadas as performances, devem os colaborados obter reconhecimento público de suas vitórias e conquistas. O fator motivacional é sempre caractere imprescindível na gestão da equipe jurídica.

Com esses dados concretos em mãos, o gestor jurídico terá condições seguras de (re)estabelecer os objetivos e metas da sua equipe para um novo período de conquistas, sempre buscando o aprimoramento dos serviços e a otimização dos lucros.

Evidente que esse modesto artigo não tem a pretensão de esgotar o tema, apenas apresentar linhas muitos preliminares para aqueles que estão agora se debruçando ao estudo sobre a gestão de carteiras jurídicas de volume ou de massa.

Vanessa Baggio
Advogada

Um comentário:

  1. Diego Brito dos Santos10 de setembro de 2009 às 15:31

    Gostaria de parabenizar o artigo escrito por ti. Em uma linguagem simples, clara e objetiva, demonstra como anda a advocacia moderna, que cada vez mais dependente da tecnologia e da interligação de outras áreas, para tornar a advocacia de vanguarda em uma empresa.

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